28.11.11

A História do Chevrolet 1939

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Em todas as épocas da história do automóvel ocorreram
transformações significativas, seja em estilos de carroceria,
seja em avanços tecnológicos na parte mecânica.
 Na década de 1920, salvo exceções, os carros eram muito
parecidos. As chapas de carroceria eram quase todas muito
planas,os pára-lamas curvos e soldados ao corpo principal
em partes destacáveis.
Os faróis, todos circulares, vinham pendurados nos pára-lamas
 dianteiros por hastes, assim como as lanternas nos traseiros.
O estepe era fixado sobre um dos pára-lamas ou na parte de trás.
Não havia porta-malas, apenas suportes para apoiar baús.
Vários ainda usavam capota de lona.
Poucos tinham capota de chapa de aço estampada junto com
 o restante da carroceria. E eram sempre muito altos

Na década de 1930 as mudanças começaram a acontecer. A carroceria monobloco iniciada na Itália já em 1922 pelo Lancia Lambda era adotada na França pelo Citroën Traction Avant, de 1934. Nascia ali uma nova tendência de estilo, possível pela menor altura das carrocerias. Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, começavam mudanças estéticas notáveis na Ford, na General Motors, na Chrysler e em fabricantes menores.

Um modelo que se destacaria na divisão Chevrolet da General Motors era o Master De Luxe de 1939. Era um automóvel de linhas curvas, aerodinâmicas e com várias carrocerias disponíveis. A imponente grade dianteira, cromada e envolvente, tinha a forma de "V". Apoiados nos pára-lamas estavam faróis circulares em forma de obuses. Na parte inferior do capô se destacavam esguias entradas de ar. Havia o modelo quatro-portas mais sisudo, chamado de Club Sedan, com três vidros laterais. Sua versão duas-portas, denominada Coach ou Town Sedan, tinha um enorme vidro lateral e era menos séria. Ambos acomodavam bem cinco passageiros, em largos bancos inteiriços.







A versão mais atraente para aqueles que gostavam de um aspecto esportivo e elegante, porém, era a Business Coupe. Com vidro traseiro pequeno, o destaque ficava por conta de seu enorme porta-malas. A traseira caída já mostrava uma nova tendência. O banco dianteiro era também inteiriço e os de trás — muito pequenos, apenas para emergências — eram chamados de ópera. Como opção podia ter um banco para dois passageiros no porta-malas, o famoso "banco da sogra". O Business Coupe era o mais leve da linha, pesando cerca de 1.200 kg, e media 4,69 metros de comprimento, 1,70 m de altura e 2,84 m na distância entre eixos. Havia também o furgão quatro-portas, com chassis de diversos comprimentos, e um belo conversível.


Em todos vinha o motor de seis cilindros em linha e 3.548 cm³, denominado Blue Flame (chama azul), que faria história. O primeiro "seis" da famosa fábrica havia estreado em 1928. Havia também uma versão de maior cilindrada com 3.860 cm³. A potência bruta era de 85 cv a 3.200 rpm para o motor menor e de 93 cv (com torque máximo de 19,1 m.kgf) para o maior, ambos alimentados por um carburador de corpo simples da marca Carter. A velocidade máxima do mais potente era de 140 km/h.







Toda a linha de 1939 usava os mesmos motores de seis cilindros: o de 3,55 litros, com potência de 85 cv, e o de 3,9 litros e 93 cv


A tração era traseira e o câmbio manual, com alavanca na coluna, tinha três marchas. A GM oferecia como opção um sistema de assistência a vácuo, que fazia 80% do esforço antes necessário para as mudanças. A suspensão dianteira tinha braços sobrepostos, molas helicoidais e amortecedores, e a traseira, eixo rígido e molas semi-elíticas. Seus pneus usavam a medida 6,00-16 e os quatro freios eram a tambor.

Foi este Chevrolet que deu um dos primeiros destaques a um dos melhores pilotos de todos os tempos: o argentino Juan Manuel Fangio, nascido na cidade de Balcarce, a 400 quilômetros de Buenos Aires. Sua primeira corrida aconteceu com um Ford Modelo A
 no final de 1936. Ele não tinha muitos recursos financeiros, mas muitos amigos o ajudavam. Os carros eram comprados com dinheiro ajuntado de rifas e sorteios. Em 1939 fez sua estréia numa categoria local que se tornaria muito famosa, a Turismo Carretera, disputada em estradas — na maioria das vezes em péssimas condições, com cascalhos e pedregulhos.







Com o Chevrolet 1939 de número 38, preto, Fangio ganhou sua primeira prova entre as cidades de San Juan e Catamarca. Era um carro imponente, com correias para segurar o capô e pára-lamas cortados, favorecendo a aerodinâmica. Nascia então na Argentina a rivalidade Chevrolet versus Ford e, ao mesmo tempo, Fangio versus Oscar Gálvez. Este tinha à disposição um motor com oito cilindros em "V", mas o carro de Fangio recebia uma boa preparação, da suspensão um pouco mais alta (com amortecedores adicionais na dianteira) ao motor com três carburadores Carter e cabeçote especial, o que elevava sua potência para 130 cv. Com caixa de quatro marchas, a velocidade máxima chegava a 160 km/h.




No mesmo ano o argentino trocou de carro. Continuou com o modelo, mas agora era vermelho e ostentava o número 1. Nele fez uma corrida trágica, que quase o fez desistir de continuar a promissora carreira: a prova Buenos Aires—Caracas. Seu co-piloto e mecânico Daniel Urrutia morreu num acidente. Outra vez os amigos lhe deram apoio. Um terceiro Chevrolet Business Coupe, ano 1940 e verde, número 26, entraria em cena para enfrentar uma prova duríssima: o Gran Premio Internacional del Norte de 1940. Com extensão de 9.445 km entre Buenos Aires e Lima, no Peru, ida e volta, os pilotos enfrentaram a perigosa pressão do ar no percurso da Cordilheira dos Andes, chegando a altitudes de 4.000 metros. A média para a época foi altíssima, em torno de 130 km/h, e a prova durou duas semanas.
Foto do Museu Juan Manoel Fangio - Balcarce - Argentina


Confortável e elegante para as ruas, o Chevrolet 1939 mostrou competência também nas pistas

O grande Juan Manuel ganhou e sagrou-se campeão argentino de provas Turismo Carretera naquele ano, obtendo boas colocações em outras provas. Em 1941, a bordo do mesmo carro, ganhou o Grande Prêmio Getúlio Vargas, no Brasil, e a Mil Milhas Argentinas, tornando-se bicampeão na categoria. Os três carros foram restaurados com grande fidelidade e cuidado e estão hoje no Museu de Balcarce, que era muito bem supervisionado por Toto, Rubén Renato Fangio, irmão do pentacampeão mundial de Fórmula 1.

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